quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Há sempre duas opções?

Algumas pessoas já me perguntaram "O que fez você nunca desistir?". E eu sempre respondo "Essa não é uma opção". Pode parecer simples, falando assim. Claro que não é. Mas vou tentar responder essa difícil questão.

Sim, por variadas vezes, já tive pensamentos insanos de fraquejar, mas não demora muito tempo até eu recuperar minha consciência. Porque, imagine se fosse você (que já me perguntou isso), você desistiria mesmo? Pode até pensar "Eu não vou fazer tal cirurgia" ou "Eu vou abandonar esse tratamento", mas logo em seguida imagina "E depois?". Depois com certeza vai ser pior, e depois com certeza você vai sofrer ainda mais. Depois pode ser que nem haja mais solução.

Mesmo que o que eu estou fazendo não esteja sendo a solução, pelo menos é a busca dela. E é assim em tudo na vida. Ninguém sabe o que pode ou não dar certo. Mas ser covarde é mais inadmissível do que sucumbir. Caia, mas caia com elegância, com dignidade e com honra.

Reclamar também não é uma opção. Afinal, problemas todo mundo tem. E uma hora as pessoas se cansam de ouvir lamentações. Pessoas nem sempre estão preparadas para ajudar ou para encarar realidades que não são suas. Elas fogem do que é triste e você continua lá, sozinha, e com o mesmo problema. Esse ponto de vista faz entender de onde vem a força. Ela vem de dentro, vem de você mesmo, porque não há outra alternativa.

A vida nem sempre é feita de escolhas, porque às vezes há só uma opção. Até pra morrer é preciso ser forte.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Lula e SUS: mais uma a opinar

Desde o último sábado (29 de outubro), dia em que foi diagnosticado e divulgado o câncer do ex-presidente Lula, não param de pulular opiniões e mais opiniões na internet a respeito de tratamento público e privado. Claro que não vou deixar a minha passar em branco. Mas, de imediato, quero deixar claro que são apenas as minhas meras impressões.

Em primeiro lugar, muitas das pessoas que estão criticando, seja o Lula, seja o SUS, nunca tiveram que "enfrentar" um tratamento no sistema público, muito menos um câncer. Bem, eu, como paciente oncológica há 10 anos, sempre tratada através do SUS, tenho pelo menos uma "versão" real a dar.

Em segundo lugar, acho imprópria essa campanha que criaram, e foram reproduzindo indiscrimidamente. Nunca fui a favor de correntes sem fundamento, esta não ia ser a primeira vez. Embora compreenda o sentido de protesto que está por trás do ato, acho que grande parte dessas pessoas não faz nada pra ajudar quem está ao lado, então pra quê fingir preocupação em rede?

Em terceiro lugar, por que não fizeram nada parecido quando aconteceu com a Dilma ou com o José de Alencar, ou mesmo com outras personalidades famosas? Só o Lula tem defeitos o bastante para "merecer" o SUS? Nesse sentido, concordo com o Dimenstein, quando ele diz que "a interatividade democrática da internet é, de um lado, um avanço do jornalismo, e, de outro, uma porta direta para o esgoto do ressentimento e da ignorância", em "O câncer de Lula me envergonhou".

A propósito - e meu intuito não é, de forma alguma, defender o SUS - nunca fiquei na mão nesses 10 anos. Acredito sim que é um sistema com muitas falhas e, principalmente, muita demora. Se formos pensar em uma doença como o câncer, em que dias ou poucas semanas fazem toda diferença, não deveria mesmo haver demora, o processo tinha que ser mais ágil. De qualquer forma, no meu caso - e estou aqui falando apenas do meu caso - essa lentidão não causou maiores prejuízos. Percebo, em contrapartida, que apesar de um sistema falho e burocrático, as pessoas, as peças que compõem esse sistema, agem da melhor forma para que tudo se encaminhe com mais rapidez (salvo algumas pífias exceções).

A fim de não "cuspir no prato em que comi", quero aqui registrar que o SUS - pelo menos em termos de tratamento oncológico e restringindo também à região do Paraná (que é onde me trato) - funciona sim, e funciona bem. Eu nunca poderia dizer que é "a maior e a pior desgraça para qualquer ser humano" ou "uma porcaria federal", como fez Helder Caldeira no texto "Não desejamos SUS a quase ninguém". Mas também não sou hipócrita em dizer que se fosse o Lula ou tão rica quanto ele não me trataria num hospital de ponta.

Vale a pena resgatar um texto escrito por Cristiane Segatto em junho de 2010, que pergunta "O SUS deve dar tudo a todos?". Concordo quando ela diz que "falta dinheiro para cuidar da saúde dos brasileiros. [...] Devemos combater a corrupção sempre, em todas as áreas. Mas só isso não basta. Mesmo que não houvesse um único corrupto no Brasil, ainda assim o dinheiro da saúde não seria suficiente para atender a todos os nossos anseios por novas drogas e tecnologias".

Talvez isso vá contra mim mesma, já que os gastos que o governo já teve comigo foram muito maiores do que os que teve com a maioria de vocês que estão lendo. Porque tratar o câncer custa caro, muito caro. Eu tenho esse direito, mas não sei também até que ponto o dinheiro gasto comigo não está faltando para o atendimento básico em outros pontos do país. Por isso não vale a pena reclamar, e sim tentar entender onde está a fonte dos problemas. O mais correto seria que a maioria tivesse condições de pagar pelo tratamento, e não de depender do Estado. 

Até porque - palavras também de Cristiane Segatto - "Como se vê, todos estamos sujeitos ao câncer. Acontece com os velhos, com os moços, com os bebês. Com os ricos e com os pobres. Com os altos e magros e com os baixinhos e gordinhos. Com os sedentários e também com os atletas (ainda que em menor proporção). Com os feios e com os bonitos" *.