Mais uma vez com um gancho no texto anterior, falo agora sobre um momento que poucos imaginam, mas quem "sente na pele" com certeza dá importância: a eterna arte de esperar. Como se sabe, ninguém é único nos consultórios e, diga-se de passagem, o Hospital do Câncer tem estado cada vez mais cheio - ao menos é a impressão que tenho. Pelo que percebo, e também algum dos médicos já comentou comigo, os próprios estudantes de medicina têm receio de se especializar na área de oncologia, o que faz menor o número de profissionais capacitados, tornando desproporcional a relação pacientes/médico. Reitero, é a impressão que tenho. Enfim, nesse jogo de "é só aguardar" daqui, "é só aguardar" dali, você "perde" horas e horas, e mais horas (muitas mesmo) da sua vida, sentado num banco, olhando paredes, teto, chão, e outros pacientes.
Minha mãe que o diga - sempre comigo em todas as consultas, exames, internações, etc. É claro que, acostumadas, já temos nossos passatempos: ela com seu crochê, eu ora com minhas palavras cruzadas, ora com os xérox e livros sempre a tiracolo. Ali, cada uma ao seu modo, buscamos uma distração (e uma abstração). Porque muitas das vezes é interessante conversar com quem está ao lado, mas volta e meia é melhor permanecer em silêncio. Não quero ser mal compreendida; a questão é que muita gente passa uma energia negativa, outros têm assuntos, na minha opinião, bem intragáveis. Enfim, salvo casos específicos (pois é sempre bom aprender com os outros), opto por dispersar meu pensamento para outros ambientes - senão é impossível aguentar 4, 5, 6 horas por uma consulta sem ter uma crise de humor.
Justificada a demora, no mais, só tenho elogios ao Hospital do Câncer. Desde copeiras, faxineiras, secretárias, às enfermeiras, auxiliares de enfermagem, médicos e outros funcionários, todos sempre foram muito profissionais e ternos. Inclusive, algumas atitudes já me surpreenderam (e surpreendem). Tendo a possibilidade de comparar - já fiquei internada no HU, em Londrina, e no Hospital da Providência, em Apucarana -, sem titubear elejo o Hospital do Câncer, se não como o melhor (estruturalmente falando), com certeza o mais humano. Com poucas exceções, as pessoas que trabalham lá sabem com quem estão lidando, simplesmente porque veem, vivenciam. E, não há dúvidas, a pessoa que tiver a oportunidade de visitar, nem que seja uma única vez, de forma alguma vai sair de lá com o mesmo olhar sobre as coisas.