sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Dia dos pais: um vazio que ficou

Apesar de muitos acreditarem que é difícil falar de si mesmo, eu não concordo. Sempre que converso, conto ou escrevo um acontecimento próprio, desabafo. Mas se tem um assunto que eu evito tocar ou mesmo lembrar, esse assunto é o meu pai. Confesso que não me agrada nem um pouco. Mas, pela pertinência que terá, e principalmente pela data que se aproxima, considerei mais do que justo contar um pouco de quem foi esse homem, chamado Clóvis Scandiuzzi Vieira.

Acho que desde que ele morreu, há 5 anos e meio, eu não falei muitas vezes sobre isso. Escrever então... nunca nem pensei. É difícil porque são muitas lembranças boas, que trazem saudades. Mas o que mais pesa são as últimas lembranças, as que antecederam a sua despedida. Foram mais de 2 anos lutando, lutando contra um câncer, um maldito câncer cerebral. É impossível passar aqui tudo que eu senti, e ainda sinto, mas é notória a minha raiva com relação a essa doença, enquanto doença incurável e até intratável (como foi o caso dele). Sei lá, difere muito de quando é com você mesmo. E é aí que me coloco no lugar das pessoas que me amam, por exemplo. Sempre afirmo que elas sofrem mais por mim, do que eu mesma. Você ver a dor e o sofrimento do outro e não poder fazer nada, só esperando a morte chegar, é indigno.

Mas eu não quero transformar isto aqui num mar de lágrimas, até porque se eu continuar por esse caminho, não consigo terminar o texto. Talvez valha mais a pena focar nas boas lembranças. E são muitas! Meu pai, um gordinho alto - gordinho não, gordão mesmo -, daqueles de "pança" rígida. Guloso, preguiçoso, bem-humorado (tenho a quem puxar hahaha). Ele falava aSSim, doCinho, Sabe? (com a língua presa entre os dentes). Clovão, o gordão mais carismático do sul do mundo. Comia romeu e julieta de lamber os beiços. Chamava minha mãe de "Mor" - "Ô, Mor, faz uma batatinha com molho pra mim!". Aos domingos de manhã, eu e meus irmãos pulávamos na cama deles, só pra ouvir a historinha do tomatinho, que a cada semana tinha um desfecho diferente.
Pai e eu, no meu aniversário de 15 anos - Nov/2003.

Era orgulhoso dos filhos, e fazia questão de sempre dizer. A última vez que lembro ter arrancado um sorriso dele foi quando passei no vestibular. Ele estava lá, na cama hospitalar instalada em casa. Só estávamos ele, a empregada e eu. Vi a notícia na internet e saí gritando, contei pra ele, que, mesmo já inconsciente, sorriu. Pra mim foi uma surpresa! Muitas vezes até aquele dia ele já nem me reconhecia mais, nem sabia mais meu nome. Mas nesse dia sei que ele sentiu orgulho; pode não ter lembrado meu nome, mas sentiu orgulho. O último que consegui dar...

Antes de me mudar pra Guarapuava, me despedi, no sábado, rapidamente, numa UTI. No domingo, viajei. Só tive dois dias pra conhecer os colegas. Na terça à noite, a notícia da morte. Uma notícia já esperada e, paradoxalmente, avassaladora. Eu e minha irmã corremos de volta pra Apucarana, antes que desse tempo de "começar o ano". Sei que muitos dos colegas da faculdade que estão lendo dirão: "Nossa, eu nem sabia disso!". Pois é, não fiz questão de contar. Ainda acho isso tudo muito injusto e queria ele aqui pra desejar feliz dia dos pais, e dizer o quanto eu o amo.

P.S.: Diante de tudo que foi vivido, esse texto torna-se superficial. Mas é que cada detalhe dessa história foi guardado em uma caixinha tão bem lacrada, que nem eu mesma sei como abrí-la.

9 comentários:

  1. Com certeza ele teria muito orgulho de vocês... e seu irmão parece com seu pai... ^^

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  2. Su, seu pai está te vendo e tem orgulho de ti, embora a vida tenha os momentos tristes ela sempre nos ensina, nos deixa mais fortes, é um exercício de superação a cada instante. Te desejo muito sucesso sempre e que a Luz divina esteja sempre te iluminando em seu caminho!!

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  3. Lindo Suélen... só quem já perdeu sabe como é essa dor. Enquanto muitos reclamam de seus pais, o que nós queríamos era penas poder dar um abraço em nosso queridos Pais.

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  4. Suzan você é como uma das estrelinhas que brilham lá no céu, lá do alto, que mesmo longe é impossível esquecer. A gente percebe que o valor da vida, do amor, da família, da amizade, estão em pequenas coisas e grandes valores, e você é essa menina especial, não pela sua doença ou qualquer outra coisa pequena, porque você é grande, é forte, é amada, e sempre foi motivo de orgulho para mim, e sua família é responsável por todo esse amor que você passa para todos ao seu redor, sua coragem e seus sorrisos pelos ares, porque você é um pedaço de cada um deles, assim como um pedacinho seu mora aqui do meu lado.

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  5. Nos conhecemos e não nos conhecemos!rs... Você é minha amiga no facebook, acredito que no orkut!rs... Já nos falamos em msn, isso foi a muito tempo atrás!rs... Vi o Link de seu blog no facebook e comecei a ler. Senti vontade de deixar uma mensagem como a que deixei no dia 14! Parabéns pelo blog,e obrigado pelas histórias de superação, e das lições de vida em que estou aprendendo com elas. Desejo novamente sucesso e que a Luz divina sempre ilumine seu caminho!!

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  6. Olá, meu nome é Marcos, sou de Apucarana mas estou a 6 anos vivendo no Japão. Não te conheço , mas conhecia seu pai e o irmão dele que se chama Claudinei. Encontrei esse blog por acaso e me arrepiei qd vi que essa história se tratava do Clóvis. Eu vivi de perto essa situação, pois eu trabalhava em uma loja em que seu pai era cliente. Lembro de um dia em que sua tia me disse q estava precisando de pessoas para doar sangue e eu fui um dos que se comprometeu a doar. Seu pai era um homem muito gente boa e lembro dele até hoje. Eu trabalhei em uma loja que ele comprava óleo para o caminhão dele. Desejo a vc e toda a família muita paz, pois sei o quanto dói perder um pai. Um beijão pra vc.
    marquinhosjapao@gmail.com

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