quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Entrevista

Sempre estive acostumada a entrevistar, formular perguntas e construir o texto baseada nas respostas. Há poucos dias, deixei meu papel de jornalista e passei para o outro lado, concedendo uma entrevista à Revista Visual, de Guarapuava. Embora continue preferindo o primeiro lado, confesso ter achado uma experiência significativa. A entrevista, na íntegra, eu mostro pra vocês agora.

RV: Por que você resolveu criar o Blog?
Eu: Nunca tive problemas em falar sobre a minha doença. Em conversas informais, contava o que já tinha passado, sempre percebendo a reação admirada das pessoas. A iniciativa do blog veio pela necessidade de colocar em prática algo que eu gosto tanto de fazer (que é escrever), já que mesmo depois de formada ainda não estava exercendo a profissão de jornalista, até por ter decidido seguir carreira acadêmica, partindo pro mestrado. Mas, mais do que isso, quis revelar de maneira mais ampla (ou para além das conversas informais) a minha história, que, na minha humilde opinião, já é bem vasta em curtos 22 anos de vida. Achei que seria válido para que outras pessoas conseguissem enxergar algumas coisas como eu enxergo.

RV: Se inspirou em alguém ou em alguma história para começar a relatar sua experiência de vida?
Eu: Na verdade, sempre pensei em ter um blog, não necessariamente contando minha história, mas onde eu pudesse me expressar de alguma forma. Não sei porque nunca dei corpo a essa ideia. Só agora, depois de tantas recidivas do câncer, percebi o quanto eu podia compartilhar com os outros.

RV: Eu sei que o Blog está sendo bastante acessado. Ele tem ajudado você em alguma coisa? Como?
Eu: Sinceramente, eu não imaginava que seriam tantos acessos em tão pouco tempo. Não imaginava, tampouco, que receberia mensagens das mais diversas pessoas, desde aquelas que há tempos não vejo, às que nem conheço. E com certeza isso me ajuda; é muito bom saber que tem tanta gente torcendo por mim e comigo. Não só escrever me faz bem, mas ser lida e compreendida, mais ainda.

RV: No Blog, você relata boa parte da sua história, desde quando iniciou o tratamento. Mas, poderia contar resumidamente, como descobriu o câncer, quantas intervenções cirúrgicas e tratamentos já fez?
Eu: Descobri o câncer em 2001, aos 12 anos de idade. Um osteossarcoma em uma das costelas do lado direito. Na época, apenas a cirurgia resolveu o problema, sendo necessário colocar uma prótese. Passei 6 anos fazendo consultas e exames de rotina, sem nenhuma surpresa maior. Foi em 2007 que fiz minha segunda cirurgia, agora na tíbia direita. Foi feito um enxerto ósseo utilizando a fíbula esquerda e parte da crista ilíaca esquerda. Nesse momento, encarei as primeiras sessões de quimioterapia: foram 8, 4 antes e 4 depois da cirurgia, uma a cada 21 dias. A terceira e a quarta cirurgias foram em 2009, no pulmão direito e no rim esquerdo, respectivamente. Em 2010, fiz mais 4 sessões de quimioterapia (3 dias na semana, a cada 21 dias) e operei o pulmão esquerdo (quinta cirurgia). Ainda no final de 2010, iniciei mais sessões de quimioterapia (também de 3 dias na semana, a cada 21 dias), que duraram até 2011, ano em que também substituí o fêmur esquerdo por uma prótese, e retirei o rim direito (sexta e sétima cirurgias). Nesta semana, iniciei pela quarta vez novas sessões de quimioterapia. No momento não estou 100%, mas consigo responder a estas questões, o que é um bom sinal (risos).

RV: Como você vê o câncer hoje? (claro que tem toda a parte do tratamento e afins), mas, você acha que o câncer trouxe algo positivo na sua vida?
Eu: Olha, é difícil me caracterizar antes e depois do câncer. Na primeira vez, eu era apenas uma criança de 12 anos e, infelizmente, convivi com ele durante todo esse tempo. Cresci “acostumada” a ele. Mas é claro que eu sou o que eu sou também por causa dele. Não sei imaginar como eu seria se não tivesse câncer. Mas eu sei como eu sou: e eu sou uma pessoa que valoriza cada momentozinho da vida, cada conversa com um amigo, cada conquista, cada abraço, porque sei a falta que cada uma destas coisas faz quando a vida parece não ter mais sentido. Mas é aí que está o sentido dela!

RV: Como é o apoio que você está recebendo através do Blog?
Eu: É incrível a forma como as pessoas “respondem” aos meus textos. Talvez por eu estar de certa forma “acostumada” com a minha história, fico até impressionada com a maneira que as pessoas a recebem. Eu sei que ela não é fácil, mas pra mim são apenas fatos, os quais eu preciso encarar.

RV: Como você tem divulgado o Blog? Ele tem ajudado pessoas que também têm câncer? Você recebeu algum tipo de comentário nesse sentido?
Eu: Eu comecei divulgando o blog pela internet mesmo, através do Facebook, Twitter, e outras redes. Mas muitas pessoas me abordaram pessoalmente, parabenizando. Recebo comentários dos mais diversos meios. E, muitos deles, me emocionam de verdade, de maneira que eu nem imaginaria. Muitos falam sobre casos de câncer na família, mas a maioria deles sobre como os meus textos ajudaram na maneira como a pessoa (que não tem câncer) encara a vida. E é isso que eu acho legal: dar força para outros pacientes como eu, mas também e principalmente “ensinar” um pouquinho pra quem quer que leia. Até porque não é necessário ter câncer para saber viver.

RV: Como você acha que iniciativas como a sua, de compartilhar sua experiência, de falar abertamente sobre a doença, ajudam no tratamento, ou em como encarar a mesma?
Eu: Eu sempre falo que o tratamento de quem tem câncer depende em grande parte do psicológico, de como a pessoa decide encarar aquilo. Não pode se entregar, desanimar. Eu acho que, com a minha iniciativa, outros pacientes podem se sentir estimulados a continuar a luta, podem ver que é possível e que a hora de morrer ainda não é agora. Pra mim, acho que as mensagens de incentivo e de carinho só têm a contribuir e a agregar à minha reserva de força. Eu luto não é só por mim, mas por todos os que gostam de mim, torcem por mim. Sem essas pessoas, não haveria motivo pra eu querer viver.

A matéria publicada na Revista, redigida pela jornalista Glarin Bif, pode ser conferida aqui.

3 comentários:

  1. Parabens pelo blog! Cada vez que leio um texto novo seu, recebo uma liçao de vida diferente. As vezes acho que damos valor a coisas tao idiotas e esquecemos o que realmente é importante. Rezo por vc, que vc ganha a batalha!

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  2. Suellen... Seus textos cada dia estão melhores e mais tocantes!
    Você me faz ver coisas que de certa forma eu não conseguia ver...
    Obrigada por isso e sucesso sempreeeee

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