sábado, 22 de outubro de 2011

"Sorrir novamente", na Gazeta do Povo

Na edição de hoje da Gazeta do Povo, caderno Gaz+, saiu uma matéria bacana sobre "histórias de quem enfrentou uma barra, mas deu a volta por cima". Eu estou lá. Confiram aqui! :)


E aqui a entrevista que dei:

GP: Primeiro de tudo, conte, por favor, um pouco da sua história. Como você descobriu a doença e o que já passou, resumidamente, até hoje?
Eu: Descobri o câncer aos 12 anos de idade, em meados de 2001. Senti um “carocinho” em uma das costelas (do lado direito) e foi aí que tudo começou. Na época fiz uma cirurgia em que ela foi substituída por uma prótese e ficou tudo resolvido. Por 6 anos, fiz apenas exames de rotina e frequentei consultas periódicas. Foi em 2007 que enfrentei minha segunda cirurgia, agora na tíbia direita (foi realizado enxerto ósseo com a fíbula esquerda e com parte da crista ilíaca esquerda), e tive o primeiro contato com a quimioterapia (foram 8 ciclos, 4 antes e 4 depois da cirurgia, feitos a cada 21 dias). Depois disso, já fiz outras 5 cirurgias, totalizando 7, e já passei por quimioterapia mais duas vezes. A terceira cirurgia foi no pulmão direito, em junho de 2009. A quarta foi próxima ao rim esquerdo, em dezembro de 2009. A quinta foi no pulmão esquerdo, em outubro de 2010. A sexta foi no fêmur esquerdo (também foi substituído por prótese), em março deste ano (nesta ocasião também foi removido um tumor na coxa direita). A sétima foi em abril deste ano, e foi feita nefrectomia (remoção) total do rim direito. Já as quimioterapias foram realizadas entre fevereiro e abril de 2010, e depois entre dezembro de 2010 e fevereiro de 2011. A grande maioria do tratamento foi realizada através do Hospital Antônio Prudente, em Londrina-PR – com exceção da cirurgia de tíbia (feita no HU - Hospital Universitário, Londrina-PR) e dos segundos e terceiros ciclos de quimioterapia (feitos no ambulatório de oncologia do Hospital da Providência, em Apucarana-PR).

GP: E como está a situação atualmente?
Eu: Agora, comecei pela quarta vez ciclos de quimioterapia para tratar outras duas lesões do osteossarcoma: uma no osso sacro e outra em uma costela do lado esquerdo. Assim que terminar o tratamento, serão realizadas mais duas cirurgias para retirada desses tumores. Na última sexta-feira (14), em conversa com meu oncologista, ele levantou a possibilidade de iniciar um tratamento no Hospital Santa Marcelina, em São Paulo, onde participaria, assim como outros pacientes, de um estudo. Isso ainda é uma hipótese que está sendo analisada, pois não depende de mim, nem do meu médico, mas sim de obedecer aos critérios de tal pesquisa.

GP: Você ficou sabendo da sua doença muito nova e enfrentou muitos percalços ao longo dos anos, todas as cirurgias e tratamentos... Como você fez para que isso não te desanimasse completamente e fizesse desistir?
Eu: Na primeira vez eu nem fazia ideia da dimensão do problema. Fui descobrir conforme deixei a infância. O baque mesmo aconteceu em 2007: eu tinha 18 anos, estava no segundo ano da faculdade, morando fora, trabalhando, etc. O primeiro pensamento foi parecido com esse, de desistir, mas só o primeiro. Na época, órfã de pai há pouco mais de um ano (também por causa do câncer), quem me deu toda a estrutura foi minha mãe. Lembro bem do que ela me disse quando recebi o diagnóstico da recidiva: “Chorar não resolve” – mesmo quando a única vontade dela também era chorar. A minha força e vontade de continuar é inspirada nela, sempre, a cada vez que eu penso em desistir. A fase mais delicada foi essa, até porque a cirurgia de tíbia exigiu que eu ficasse mais de um ano usando muletas, e o tratamento quimioterápico também foi longo (por volta de 6 meses). Mas na época eu tinha um namorado que esteve ao meu lado por todo esse processo; e isso também me ajudou muito na recuperação.

GP: Que elementos, como família, amigos, etc, você acha que foram essenciais para que você continuasse essa luta?
Eu: Assim como minha mãe, que além de inspiração, é família, amiga, acompanhante assídua de consultas, internações, quimioterapias, etc., tenho e tive algumas pessoas essenciais na minha vida. Aquelas que, mesmo longe às vezes, conseguem te colocar um sorriso no rosto – sorriso que faltou naquele dia, e que te impulsiona para acordar no dia seguinte. Enquanto eu morava em Guarapuava pra fazer faculdade, por exemplo, longe da minha mãe, quem “cuidava” de mim eram meus amigos, e “vizinhos-amigos”. Em 2008, eu morei sozinha em uma kitnet, e usei muletas durante todo o ano. Eram eles quem faziam minhas compras de mercado, estendiam minhas roupas no varal, carregavam a sombrinha pra ir à Universidade (que ficava à uma quadra) em dias de chuva e, mais do que tudo isso, eram eles quem me traziam a alegria de cada dia.

GP: Você chegou a fazer algum tratamento psicológico?
Eu: Não. Meu tratamento psicológico sempre foi fazer o que eu gosto, ter boas companhias, estudar, dar sequência na minha vida, enfim. O câncer é uma doença que abala, que muda as formas de pensar, que traz sofrimento, sim, mas isso nunca me abateu a ponto de sentir necessidade de um tratamento paralelo. 

GP: Mesmo ainda enfrentando a doença, você acha que, de alguma forma, conseguiu superá-la?
Eu: A luta é diária. Não posso dar por vencida, nem pra mim, nem pra doença. A gente vai brigando e vamos ver quem ganha. De qualquer forma, posso sim afirmar que em muitos aspectos ela foi superada, por exemplo com relação à vaidade (queda de cabelo, aparência abatida) e principalmente à própria aceitação da doença, no sentido de que não adianta lamentar, é preciso, sim, erguer a cabeça e seguir firme na luta.

GP: Apesar de tudo, você sempre tentou levar uma vida normal? Sair com os amigos, viajar, por exemplo.
Eu: Com certeza. O câncer nunca foi e nunca vai ser um impedimento pra mim, em nada. Nunca deixei de fazer nada por causa dele. É claro que em momentos de recuperação cirúrgica ou pós-quimioterapia existem algumas limitações, mas são momentos. E eles são minoria na minha vida. Em todos os outros que me sinto bem, estou vivendo, e aproveitando cada minuto do meu tempo. Prova disso é estar formada e cursando mestrado aos 22 anos, feito que não muitos conseguem, mesmo resvalando saúde. Sair com os amigos também é uma atividade constante, acho que até exagerada (risos). Viagens são costumeiras, na medida do possível. Durante a faculdade participei de congressos (Blumenau, Caxias do Sul, Curitiba, etc), fui à Brasília pelo Projeto Rondon, à praia também. O que é preciso ter claro é que um paciente oncológico não vive no hospital, a vida dele não se resume ao tratamento.

GP: E o blog, como e quando surgiu?
Eu: O blog surgiu há pouco mais de 2 meses. É algo que já tinha me passado pela cabeça em fazer, mas nunca de maneira tão latente. Um dia, num estalo, senti que precisava compartilhar minha história. Foi após a notícia das duas últimas lesões, às quais estou tratando. Percebi que os fatos estavam se acumulando e senti necessidade de contar um pouco disso, ao mesmo tempo em que arquivava. Na verdade, foi uma forma de extravasar os sentimentos e angústias, além de confortar outros pacientes ou familiares sobre não só a possibilidade, mas a importância de se levar uma vida normal, mesmo tendo câncer. Também posso dizer que foi uma maneira de me sentir útil, e, de alguma forma, estar buscando possibilidades para a minha cura. Uma maneira de parar de “caranguejar”, como o próprio nome do blog sugere.

GP: Imagino que você tenha conhecido várias pessoas através dele. Como é essa relação com os leitores?
Eu: A minha relação com as pessoas, depois do blog, só veio a se estreitar. Percebi que muitas que eu já conhecia, por exemplo, se sentiram à vontade em se expressar, dizer o que pensam. É nesse movimento, nessa interação, que eu venho conseguindo “ler” o lado mais bonito de tais pessoas. Sem falar naquelas que me procuram, me mandam e-mail, comentam, parabenizam, sem mesmo me conhecerem. Aliás, elas já me conhecem um pouquinho, através dos meus relatos, eu é que fico na curiosidade (risos). Mas estou achando ótimo receber tantas mensagens de apoio e de carinho de perto e de longe (Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rondônia, Mato Grosso do Sul, além de outras cidades do Paraná, etc). 

GP: E quando você vê alguém passando por uma situação parecida, o que você diz pra pessoa, já que você convive com isso há tanto tempo?
Eu: Na verdade eu tento passar com o meu próprio modo de viver, a ideia e a certeza de que é possível se manter confiante, ter esperança e fé sempre. Procuro sorrir, não há muito o que se dizer nestes momentos, a não ser que a pessoa me peça ou me pergunte. Às vezes é melhor conversar sobre o clima ou sobre a cor do esmalte, ao invés de procurar respostas. As respostas vêm depois, quando a gente menos espera. Quando estou esperando por uma consulta, por exemplo, o assunto que menos gosto de falar é sobre a doença. E no meu dia-a-dia também... Não que eu tenha problema em falar, pelo contrário, falo abertamente, mas não é algo que precisa estar sempre sendo lembrado. Distrair e viver faz muito bem também.

5 comentários:

  1. "Salomão" que se cuide.... heheheheheheeh sua sabedoria me surpreende a cada dia! Parabéns mais uma vez!

    Silvia

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  2. Adoro seus textos Suellen são ótimos...e a entrevista foi muito boa, um exemplo pra todos!!

    Parabens!! =D

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  3. Parabéns Suellen, muita massa..!! bejoca

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  4. Parabéns Suellen,você e uma destas pessoas que em vez de ver a vida passar,faz a diferença.

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  5. Peguei o jornal para fazer um artesanato de natal,quando me deparei com sua foto e história me indentifiquei muito com vc,pois faço pela 2º vez quimioterapia para tratamento de um tumor cerebral já retiradopor 3 vezes mas reincidido.Apesar de tudo que já passei penso que tenho muito oque viver e não é essa doença que vai me impedir...Sou uma pessoa feliz e aprendi a dar valor em tudo nesta vida...
    Fique com Deus...

    Joelma
    Curitiba



    Curitiba

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